sábado, 1 de janeiro de 2011

Menino espanhol recebe quatro órgãos de criança portuguesa

Um menino espanhol de quatro anos recebeu um transplante de quatro órgãos abdominais de uma criança portuguesa, uma dádiva considerada um «milagre» pelos pais que já agradeceram à família doadora. Foi a cooperação europeia a nível de transplantação que «permitiu este milagre», disse à agência Lusa a coordenadora nacional das unidades de colheita da Autoridade para os Serviços de Sangue e da Transplantação (ASST), Maria João Aguiar. O menino recebeu um multitransplante (duodeno, intestino, pâncreas e fígado), uma operação «rara e difícil», segundo Maria João Aguiar. Agora, a nova luta do rapaz de Arkotxa (Zaratamo, no País Basco) é adaptar o seu organismo aos novos órgãos doados por uma família portuguesa que perdeu o filho. O transplante foi possível graças a uma doação proveniente de Portugal, disse o diretor da Organização Nacional de Transplantes espanhola, Rafael Matesanz. «Perante a dificuldade de conseguir um doador em Espanha, estendemos as buscas além da nossa fronteira. O milagre ocorreu em Portugal: o país irmão com quem Espanha mantém uma cooperação muito estreita em matéria de transplantes e nos fez ver a luz no fim do túnel», adiantou Matesanz. A operação, realizada na madrugada de quarta-feira e que durou mais de seis horas, foi conduzida por Manuel Lopes Santamaria, que dirigiu a equipa cirúrgica do Hospital de La Paz, em Madrid, e é considerado o melhor especialista de transplante pediátrico em Espanha. Apesar de a operação ter sido considerada «perfeita» pelos familiares, os especialistas do hospital madrileno escusaram-se a fazer uma avaliação. «As primeiras 24 horas são críticas. A criança está na Unidade de Cuidados Intensivos» e só mais tarde será divulgado um relatório médico, disse um porta-voz do hospital. O multitransplante ocorreu precisamente um mês depois da intervenção a que a criança doi submetida para remover um tumor raro, instalado no abdómen desde a gestação e que se desenvolveu até atingir os 700 gramas. Para o pai do menino, este foi «o melhor presente de Natal» e fez questão de agradecer o gesto de solidariedade à família portuguesa: «Nós temos os sentimentos à flor da pele e quero estender os nossos agradecimentos a uma família que está a passar por aquilo que não quero passar».

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